quarta-feira, 7 de outubro de 2009

D.



O som seco de passos sobre a madeira que formava aquele piso. O próprio barulho parecia denunciar o tempo. O tempo em que ninguém pisara ali. O pó contava a história, de maneira hostil, e solitária. E com tantos sinais, quem seria ele para negar a tragédia de sua vida? Estava escrito nas paredes – nos corredores paredes brancas, em alguns aposentos manchadas de grafite e sangue. Mas tudo fora á muito tempo atrás. A cada passo, memórias chicoteavam sua mente, as imagens, que em pouco tempo se formavam em sua cabeça. Feridas antigas, marcas para uma eternidade. Eternidade que poderia muito bem ter outro nome. Na verdade, aquilo poderia ter milhares de nomes. E talvez fosse desperdício de tempo, tentar nomear algo morto. Sim, morto. Nada mais morto do que o passado, não? E não importa a vivacidade que as memórias tenham, nem quão aterrorizantes sejam os pesadelos que elas provocam ao longo da vida – passado é imutável tal como a morte. Não há o que se fazer. Não importa quantas palavras e manchas possam ser apagadas daquelas paredes, nada muda o fato de que elas estiveram ali, por que elas estiveram ali, e o mal que causaram por estar ali. Era inútil pensar nisso agora, que ele andava pelo corredor. Que parecia ser grande demais, após tanto tempo. Ou nem tão grande assim, o final já se aproximava. Uma das portas de madeira pesada, o seu antigo presídio, o seu antigo quarto, estava próximo demais. E na fechadura, teias, e um esqueleto de aranha. Sua fobia. E era tudo tão vivo em sua cabeça, que era como se ele estivesse vivendo uma daquelas noites de novo. Entrar no quarto, revirá-lo. Pensar o suficiente para se torturar, e então vir á sua mente todas as coisas, se cenas do dia. Lembra-se do dia em que caiu no meio da rua? Nada de mais, é claro, acontece com tantas pessoas. Não faria diferença aquela queda. Só que eles estavam olhando – como sempre. Olhando e percebendo cada erro que ele poderia cometer. E ele cometera um erro. Pena aquele erro ser tão insignificante a ponto de ser apenas um pingo em meio a tempestade. Era outro seu erro – ele nem mesmo sabia qual era esse erro. O que fazer então, quando recebe punição por um crime que não sabe se cometeu, como cometeu? Eles não se importavam se ele foi de fato criminoso, e não estavam ali para julgar sua culpa ou inocência. Estavam ali para punir, e o fizeram. Os socos não doíam, a pele não ficara roxa por mais de três dias. O pior era saber o que aconteceu. E o pior ainda era saber quem além deles via. E não se importava com ele. Ela não se importava. Ninguém se importava. Isso não devia doer, mas ela fazia isso doer. Ele não podia dizer, ele não podia falar com ninguém. Era uma tortura, e ele não sabia por que a sofria. Não conseguia descobrir o porque. Havia milhares de pessoas no mundo, por que aconteceu justo com ele? Não havia explicação. E não havia como ele se libertar, e nem como ele pedir ajuda, ninguém podia falar-lhe. Então as paredes, suas amigas, escutando suas palavras, mas berros não eram suficientes, não curavam sua dor. O que curaria? O branco se tornando em cinza em seu quarto, e logo a escuridão. Em todos os lugares de sua casa. Uma grande casa, uma grande porcaria. Como se compensasse tudo que havia passado. O que ele tinha para comer, o dinheiro que ele tinha. A sua vida era limitada – limites, sua vida era composta por limites. O limitaram ao máximo, para esconder do mundo uma mente brilhante. Mente solitária. E não foram lágrimas – não tinha a capacidade de chorar, não aprendera isso – foram palavras a sua salvação. Escritas em toda a parte, junto aos móveis quebrados, de seu ultimo ataque de fúria. Então o estardalhaço de coisas se quebrando, chamou a atenção – o que era para ser um erro fatal...

Tentaram o curar, clínicas e tratamentos. Mudou de país, e passou alguns anos na casa de uma família, o que fazia parte de seu tratamento. O dinheiro que perdeu, ganhou de volta. Conseguiu um emprego decente, e várias pessoas o ajudavam – até demais. Nunca mais soubera dela. Para não mentir, a ultima vez que escutara seu nome, ela estava ainda na mesma situação que antes. A única diferença eram as olheiras e a palidez que ia aparecendo em seu rosto. O tempo curou as feridas em sua pele, e algumas em sua alma – apesar de curadas, nada podia negar que elas ali já estiveram – e aos poucos, sua vida se tornava “normal”. Até que uma investigação da polícia fez que todos seus antigos bens fossem reconstituídos, e o destino o trouxesse ali outra vez. Em frente aquela porta, que o levava ao filme que relatava seu passado. E quando a porta se abriu, viu que nenhum boato referente á ela era mentira. A pele pálida, as olheiras, os olhos vazios. A indiferença era a mesma, mas algo lhe caia estranho. Todas as vezes que a vira, ela estava sentada lendo. Agora apontava algo na direção dele. Mas ele não teve tempo de perceber o que era.

” Não existia além do céu,
Eu fiz surgir nas minhas paredes,
Doentes, dementes,
Sentimentos inconseqüentes.”


[Por Larissa Cândido da Silva]


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Ooi. .-. Esse é D. um texto que escrevi faz teeeeeeeempo. Eu gosto muito dele *-*
O modo como foi escrito, deve ser lido como se fossem pensamentos. São distorcidos e confusos. Muitas vezes sem ordem. D:

Como ninguém lê essa joça mesmo, não vou falar 'espero que gostem.' .-. Mas eu espero isso. ISUAHDIASUHDUIAHS
E acho que vou postar mais coisas aqui uma hora dessas. .-.
Mesmo que ninguém leia @_@
Que blog falido ><
/parey

:*

2 comentários:

  1. Wow, um ataque de emo no fim. É, as vezes nós, blogueiros ficamos um pouquinho sozinhos, mas não abaixe a cabeça... Seu texto é bacanudo... Só tenta se ligar um pouco na acentuação...
    http://megafone-on.zip.net

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  2. "..Há um mapa dos meus passos nos pedaços que deixei.." lembrei disso no começo x)

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